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Federação dos trabalhadoes na agricultura familiar do Rio  Grande do Sul

“Construindo um futuro melhor para a agricultura familiar”

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Falta de chuva preocupa agricultores familiares da base da FETRAF-RS

Chuvas irregulares e calor acima da média já causam prejuízos na produção

O efeito da estiagem ocorrida em 2024 e que se entende por algumas regiões do estado neste ano de 2025 está causando preocupação entre os agricultores gaúchos. Na Região Celeiro, uma das mais afetadas, a redução de umidade no solo, excesso de calor e a ausência de chuvas prejudicaram a semeadura e o desenvolvimento de diversas culturas, entre elas, a soja. Segundo os produtores, há necessidade de replantio em até 20% das áreas em algumas propriedades e de perdas de até 30% na produção. Caso haja ocorrência de chuvas nos próximos dias, a expectativa é que as lavouras se recuperem do estresse hídrico.

Em relação ao milho, a maior parte das lavouras se encontra em fase final de maturação, e a colheita deve ser antecipada em decorrência do cenário climático das últimas semanas. Alguns produtores estão decididos a não fazer o plantio do milho safrinha, em virtude da incerteza da ocorrência de chuvas.

Mesmo com a utilização de irrigação, tem sido difícil para os produtores manterem os cultivos que são menos resistentes às condições climáticas extremas ocorridas no período, como a olericultura. Em grande parte das propriedades, a maioria das folhosas ofertadas provém de hortas que dispõem de sombrite e de irrigação. A baixa umidade do ar tem contribuído para diminuir a incidência de doenças em todas as olerícolas mas, por outro lado, tem provocado aumento de ataque de ácaro e tripes.

O cenário de estiagem, com ocorrência de chuvas isoladas e irregulares, resulta em uma série de problemas para a agricultura familiar, como o mal desenvolvimento da produção, o baixo índice de germinação, a diminuição e ressecamento dos frutos, morte das plantas e a perda de valor comercial dos produtos agrícolas. Os impactos da situação meteorológica são relatados por diversos agricultores familiares gaúchos, que demonstram preocupação em relação aos resultados da produção. 

Segundo Vilson Schneider, do município de Humaitá, localizado na Região Celeiro, as chuvas irregulares e o calor excessivo já deixam um impacto irreversível na cultura da soja. “As perdas estimadas estão entre 50% e 60% na produção. Entre 25 de dezembro de 2024 e 23 de janeiro de 2025, o volume acumulado de chuvas na propriedade foi de apenas 15 mm, agravando severamente as condições de desenvolvimento da lavoura.” Em Tiradentes do Sul, o produtor de leite Jovani da Silveira relata que o calor excessivo tem impactado na diminuição da produção de leite, dado o estresse gerado nos animais. Além disso, a irregularidade das chuvas provoca a redução na oferta de pastagem em alguns momentos. Sobre o leite, há relatos de aumento do custo de produção em até 30%, devido à necessidade de maior oferta de milho seco, farelo de soja e de trigo e de  silagem aos animais, como meios de manter a litragem.

Jair Mayer, agricultor familiar do município de Tiradentes do Sul, relata com preocupação a escassez de água potável em sua comunidade. “O poço artesiano da comunidade, que é destinado ao consumo humano, já está sendo usado por algumas famílias para dessedentação animal. O consumo de água aumentou e o nível dos rios está diminuindo dia após dia”.

Para Douglas Cenci, Coordenador Geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (FETRAF-RS), o cenário é preocupante. “O estado enfrentou quatro anos consecutivos de estiagens que, somadas às enchentes, resultaram em perdas econômicas e sociais significativas para os agricultores familiares. Uma nova perda produtiva agrava a situação dos agricultores, podendo ampliar o endividamento e levar muitos à desistência. Este é um cenário cada vez mais recorrente e os governos estadual e federal precisam encará-lo com seriedade e criar políticas públicas voltadas a mitigar os prejuízos sofridos pela categoria da agricultura familiar. Avaliamos que, em primeiro lugar, é preciso garantir a reestruturação dos agricultores diante das perdas já sofridas; em segundo, auxiliar os agricultores no processo de adaptação da produção diante do novo contexto climático e; em terceiro, implementar medidas globais (no campo e na cidade) que busquem mitigar ou reverter a severidade das mudanças climáticas”.

No que diz respeito ao processo de adaptação da agricultura familiar a nova situação climática, estão em andamento iniciativas que visam construir resiliência no campo, através de mudanças no manejo dos sistemas produtivos. Nesse sentido, a FETRAF-RS vem trabalhando a partir do Método Sistema de Plantio Direto de Hortaliças e outras Culturas (SPDH+), que consiste num conjunto de técnicas que objetivam a diminuição de custos de produção, a retenção de umidade no solo – diminuindo assim a evapotranspiração acelerada pelas altas temperaturas -, a manutenção e/ou aumento dos índices de produtividade, a redução da penosidade do trabalho e, somado a isso, a melhora nas condições ambientais dos agroecossistemas, colaborando na adaptação dos agricultores às mudanças climáticas e na mitigação de seus impactos. 

A FETRAF-RS, juntamente com os agricultores e agricultoras familiares do Rio Grande do Sul, vem monitorando a situação de escassez e irregularidade das chuvas pelo estado, a fim de acompanhar de perto os efeitos da crise climática na realidade concreta dos produtores, de forma a possibilitar um adequado processo de tomada de decisão diante da pauta e de busca por soluções que visem mitigar os efeitos danosos da instabilidade do clima na vida dos agricultores e agricultoras familiares.

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