
Nós, mulheres agricultoras familiares da FETRAF-RS, reunidas em nosso 2° Encontro Estadual, por meio de nossos coletivos, expressamos nesta carta a força, os anseios e os compromissos que nos movem na construção de uma sociedade mais justa, igualitária e promotora da vida. Chegamos a este segundo encontro após um amplo processo de diálogo, formação e mobilização, que fortaleceu nossa organização e ampliou a voz das mulheres agricultoras familiares.
Escolhemos como tema deste encontro “Mulheres: geradoras e guardiãs da vida”, e como lema “Vida e Agricultura Familiar”, reafirmando que o futuro da humanidade depende de uma virada cultural capaz de colocar o cuidado com a vida humana e ecológica em primeiro lugar. Nós, mulheres, somos guardiãs desse saber e queremos contribuir ativamente com essa transformação.
A Agricultura Familiar é o nosso ponto de partida, fomos percursoras e protagonistas na agricultura, e é como agricultoras familiares que nos reconhecemos e que nos inspiramos na arte de cuidar da vida. Na produção de alimentos, no manejo responsável do meio ambiente, no uso das plantas medicinais, na cooperação solidária e na resiliência cotidiana está a nossa força transformadora.
Neste encontro, manifestamos também nosso repúdio às violências que atingem as mulheres no campo (físicas, psicológicas, patrimoniais ou simbólicas) e que ameaçam nossas vidas. O silenciamento, o preconceito, a desigualdade de gênero e a sobrecarga de trabalho, frutos de um sistema patriarcal e machista, precisam ser combatidos por todas e todos. Não retrocederemos. Basta de Feminicídios! Queremos e lutaremos juntas e juntos por uma vida livre de violências.
Vivemos ainda os efeitos cada vez mais severos das mudanças climáticas, que têm causado perdas humanas, econômicas e sociais, afetando fortemente a agricultura familiar e a vida nas comunidades rurais. Esses eventos extremos são resultado do descuidado da sociedade com a natureza, e sem uma ação efetiva e urgente, as consequências serão ainda mais graves.
O modelo produtivo hegemônico, centrado no uso intensivo da terra, de insumos químicos e na lógica do lucro e dominação, tem degradado o meio ambiente, comprometido a saúde humana e aumentado o custo de vida das famílias agricultoras. Como defensoras e promotoras da vida, reafirmamos a urgência da transição sustentável do modelo produtivo, que devem priorizar a diversificação, a sustentabilidade, o respeito ao trabalho e, principalmente, à saúde. É alarmante o aumento dos casos de câncer, afetando sobretudo as mulheres, vítimas de um modelo que envenena o corpo e a terra.
Transformar essa realidade exige ação coletiva e imediata. É fundamental o comprometimento do poder público nas três esferas com políticas que garantam saúde integral, assistência técnica, acesso ao crédito, combate efetivo às violências, apoio à produção sustentável, autonomia econômica e valorização das mulheres agricultoras familiares. Da mesma forma é imprescindível o engajamento de toda sociedade e das organizações, inclusive do movimento sindical, na garantia de espaço, voz e vez para que as mulheres ocupem espaços de liderança e construção política. Precisamos de uma mudança cultural profunda, entre homens e mulheres, para construir uma sociedade que priorize o cuidado e a vida em todas as suas formas.
Seguimos, juntas, gerando e guardando a vida.
Seguimos, mulheres agricultoras familiares, plantando resistência, igualdade e esperança.




